7 de janeiro de 2010

C.L.

"Não é que vivo em eterna mutação,
com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim
de cada um dos modos de existir.
Vivo de esboços não acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso,
entre mim e eu,
entre mim e os homens, entre mim e o Deus."

Clarice Lispector.

trash

-...

Os olhos sugados pela dor,
não correspondem tão logo á luz do farol,
aceso em direção ao norte,
depois ao sul,
retrocedendo ao leste.

Dentro de sua mente,
não existe a mínima possibilidade de alcançar alguma coisa,
por mais perto que ela esteja.

Ele sente o veneno correndo em suas veias,
mas veneno ali não há;
só um buraco negro,
perdido em meio a amargura de sua vida,
de sua historia,
de seu coração.


No fundo há certa felicidade,
em parecer vivo depois de tanto sofrimento.
Mas mesmo tentando ocultar,
ele sente que o medo vem lhe assombrar;
o mesmo medo que acompanha a solidão,
que venera a escuridão.

Ele está morto,
cinza, e apodrecendo.

E isso é fascinante.
Mas é segredo.


L.

3 de janeiro de 2010

trash

Ouço gritos...

gritos!
gritos!
gritos!

Arranhe,
corte,
maltrate.

Escuto vozes.

Vejo sombras.

Vejo cúmplices.

Adeus!
Está na hora do meu remédio.

L.

trash

-...

A solidão,
como de costume, corrompe o afeto.
Me transforma em um monstro.
Prende-me com arames,
desde as mãos,
até os pés.
Para a boca,
é usada uma cola feita com estrume.
Pra que não grite por ninguém.
Meus olhos são tapados com véu negro.
Entre quatro paredes...
sem luz, sem janela,
sem saída nem entrada.
Como vim parar aqui?
Foi por instinto daquela que não venera o sol.

L.